esposo tinham vivido como recém-casados. Ela pediu-me quepassasse em frente a um depósito de móveis, que havia sido umgrande salão de dança que ela freqüentara quando mocinha. De vez em quando, pedia-me para dirigir vagarosamente em frente aum edifício ou esquina - ficava então com os olhos fixos naescuridão, sem dizer nada. Quando o primeiro raio de sol surgiuno horizonte, ela disse de repente:- "Eu estou cansada. Vamos agora!" Viajamos, então, em silêncio, para o endereço que ela haviame dado. Chegamos a um prédio baixo, lúgubre, como umapequena casa de repouso. A via de entrada passava sob umpórtico. Dois atendentes caminharam até o táxi, assim que eleparou. Eram muito amáveis e atentos e observavam todos osmovimentos dela. Eles deviam estar esperando-a. Eu abri a malado carro e levei a pequena valise para a porta. A senhora já estavasentada em uma cadeira de rodas.- "Quanto lhe devo?", ela perguntou, pegando a bolsa.- "Nada", respondi.- "Você tem que ganhar a vida, meu jovem"- "Há outros passageiros", respondi.Quase sem pensar, eu curvei-me e dei-lhe um abraço. Elame envolveu comovidamente.- "Você deu a esta velhinha bons momentos de alegria.Obrigada". Apertei sua mão e caminhei no lusco-fusco da alvorada. Atrás de mim uma porta foi fechada. Era o som do término deuma vida. Naquele dia não peguei mais passageiros. Dirigi semrumo, perdido nos meus pensamentos. Mal podia falar. Se a velhinha tivesse pegado um motorista mal-educado e raivoso, ou
algum que estivesse ansioso para terminar seu turno? E sehouvesse recusado a corrida, ou tivesse buzinado uma vez e idoembora? Ao relembrar, não creio que eu jamais tenha feito algomais importante na minha vida. Nós estamos condicionados apensar que nossas vidas giram em torno de grandes momentos.Todavia, os grandes momentos freqüentemente nos pegamdesprevenidos e ficam maravilhosamente guardados em recantosque os outros podem considerar sem importância. AS PESSOAS PODEM NÃO LEMBRAR EXATAMENTE OQUE VOCÊ FEZ, OU O QUE VOCÊ DISSE, MAS ELASSEMPRE LEMBRARÃO COMO VOCÊ AS FEZ SENTIR